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Projeto “40 anos, 40 artistas” | Inequívocos de Bernardo Massimo Scoditti

Scoditti (IT) Sem título, 1997 Aguarela sobre papel 100 x 100 cm Prémio Aquisição na IX Bienal Internacional de Arte de Cerveira, realizada de 9 a 31 de agosto de 1997.

 

A obra de Bernardo Massimo Scoditti (n.1952) posiciona-se no tempo e no espaço do papel e da sumptuosidade da geometria ao serviço do detalhe. Linhas, círculos e pequenas manchas repetem-se na monocromia do suporte, simétrica e hermeticamente trabalhada, questionando a nossa forma de ver e percecionar e remetendo-nos para as técnicas de desenho, preparação para o pictórico e para a representação. Parece que regressamos ao Renascimento e sentimos a ligação umbilical entre Arte, Ciência e espiritualidade. Plena de virtuosismo, a produção do artista italiano, é de leituras equívocas e multiplicadas, na evidência de que a luz e os dias nos vão revelando um pouco mais. Apenas grafite e tinta-da-china, por vezes também aguarela, sobre papel. Sempre o papel. Não raras vezes, a obra ocupa os dois lados do suporte, numa narrativa formal dupla e complementar. O papel enquanto suporte, para a bidimensionalidade, mais próximo da natureza. A linha desenvolve-se ao ritmo certo, minucioso e de inequívocas conformidades com a ordem, interior e exterior, da composição. Há simetria, mas há, também, um ligeiro desajustar nos pequenos universos que, por vezes, surgem na composição e para os quais é necessária a atenção no exercício de decifração dos pequenos universos sugeridos. A obra que integra a coleção da Fundação Bienal de Arte de Cerveira, uma técnica mista sobre papel de 100x100cm, é exemplo desta narrativa. É de 1997 e venceu, nesse mesmo ano, o Prémio Aquisição da IX Bienal Internacional de Arte de Cerveira, realizada entre 9 e 31 de agosto.
Bernardo Massimo Scoditti estudou em Roma na Faculdade de Arquitetura e na Academia de Belas Artes. No início da década de 1980 já estava em Portugal. Aliás, a sua primeira exposição individual, em Portugal, é organizada por Jaime Isidoro (1924-2009), na Galeria Tempo, em Lisboa, em 1981 e a segunda na Galeria Dois, também de Jaime Isidoro, em 1984 e com texto de Edgardo Xavier. Em 1997, Jaime Isidoro volta a organizar-lhe uma exposição individual na Galeria Dois, desta vez com texto de Fernando Lanhas. Terá sido nesse encadeamento relacional que o artista começa a marcar presença nas Bienais Internacionais de Arte de Cerveira, tendo participado nas edições de 1984, 1986, 1992, 1997 (em que foi premiado) e 2001.
A obra do artista natural de Mesagne, na região de Brindisi, no sul de Itália, é um caso ímpar no panorama da produção artística do contemporâneo, não se posicionando entre correntes ou estilos, mas tendo sim a marca dos estudos clássicos de desenhos e pintura, que se tornam dimensão primeira do que há a ver e descobrir. Tudo é intenção e razão, ainda que medido no exercício de um retiro do mundo e de concentração na ação plástica e pictórica. No seu currículo, Bernardo Massimo Scoditti soma largas dezenas de exposições individuais e coletivas, entre Portugal, Itália, Espanha e o Brasil, estando a sua obra presente em relevantes coleções públicas e privadas. É um artista para descobrir no tempo calmo da contemplação.

 

« texto de Helena Mendes Pereira